Comunidade de aprendizagem Sementeira
- Ricardo Falzetta

- 14 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Por Juliana Souza Nunes*
A Sementeira é mais uma iniciativa de um movimento crescente no Brasil e no mundo de comunidades de aprendizagem que põem em prática princípios para proporcionar às crianças ambientes e vivências que as acompanhem no desabrochar de suas curiosidades e potenciais integralmente, isto é, física, emocional, mental e espiritualmente.
Essa experiência começou em 2017 com três famílias e seis crianças. Atualmente somos 19 famílias e já passaram por esse espaço de convivência aproximadamente 50 crianças. Nele, prezamos pelo contato com a natureza, desfrutando dos recursos e das paisagens de Piracaia. Fazemos parte de redes que estão consolidando no Brasil um novo cenário na Educação: a rede da aprendizagem autodirigida, a rede da pedagogia griô e a rede da Educação Viva e Consciente.
Um pilar da aprendizagem autodirigida (ASDE www.self-directed.org e Agile Learning Centers agilelearningcenters.org) é que a aprendizagem é natural e acontece a todo momento. Pode se dar em todos os ambientes em que a criança frequenta, se sente em pertencimento e em relação com seu entorno. A aprendizagem é mais significativa e interiorizada quando a criança toma as decisões para alcançá-la, recorrendo aos materiais e às pessoas de que necessita para tal experiência se efetivar. Faz parte do nosso processo de aprendizagem recorrer aos livros e aos conteúdos e, além disso, vivenciar experiências sensoriais e empíricas, recorrer a mentorias, pessoas e tutores que poderão contribuir com suas descobertas e reconhecer sua rede de apoio para o seu processo de aprendizagem.
A pedagogia griô (pedagogiagrio.com) nasce no Brasil idealizada por Lílian Pacheco, educadora biocêntrica, facilitadora de biodança, escritora e poeta. Esse conceito está ativamente se ampliando em diversos contextos de práticas culturais e pedagógicas. Ela nos inspira em sua abordagem de encantamento pela infância e seu protagonismo, enriquecendo o seu universo e contexto cultural. Além disso, complementa uma prática que sensibiliza para a vulnerabilidade social de raça, gênero e classe, partindo da conscientização histórica, do resgate e do empoderamento dos mesmos. É uma abordagem que inspira a forma pela qual podemos apresentar às crianças a diversidade de nosso contexto social e cultural, para além da cidade em que vivemos e de nossas relações sociais.
A Rede de Educação Viva e Consciente (www.educacaovivaeconsciente.com.br) mapeia iniciativas na América do Sul que se baseiam numa educação que acontece a partir do encontro humano, horizontal. A base está na criação de vínculos afetivos reais, que possibilitam às crianças desenvolver a confiança necessária para a sua evolução. Para isso, a atuação do educador permeia pilares que sustentam a prática do encontro do adulto com as crianças. São eles: a observação e a não diretividade e o cuidado com o julgamento, qualitativos e comparações. Nesses ambientes, prezamos pelos espaços preparados que possibilitem o livre brincar, a aprendizagem lúdica e significativa e a autonomia das crianças.
Temos como inspiração grandes educadores e referências na Educação e no Desenvolvimento Humano, pois consideramos que estamos acompanhando o desabrochar de uma geração já totalmente digital (a chamada Geração Alpha) e que uma educação funcional e viva requer princípios que vão além da aquisição de conhecimento e do acúmulo de conceitos, além do desenvolvimento de habilidades mentais, textuais ou numéricas baseadas na aprendizagem cognitiva por meio dos livros. Estamos certos de que precisamos fomentar habilidades mais complexas, como a sobrevivência social (conviver e aprender com as diferenças e as diversidades), a inventividade (lidar com a informação cada vez mais disponível), a adaptabilidade (discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais), a resiliência, a habilidade em lidar com a velocidade com que as mudanças atuais ocorrem (sem criar ansiedade ou rigidez) e, por fim, a inteligência emocional.
*Juliana Souza Nunes é mãe do Iuri, pedagoga, mestre em Educação no Programa Europeu em Engenharia de Mídias para a Educação (reconhecido no Brasil pela Universidade de Brasília) e co-fundadora e educadora da Sementeira.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do Jornal Assa-Peixe. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas piracaienses e de refletir tendências do pensamento contemporâneo.

Um lugar de respeito para semear nossas crianças. Viva a Sementeira!