Agroecologia em Piracaia
- Ricardo Falzetta

- 11 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Por Dercílio Aristeu Pupin*
A agroecologia não é um assunto novo em Piracaia. Seu significado está ligado à agricultura familiar. Portanto, à comunidade, à regeneração, ao meio ambiente, à preservação e à comida sem veneno. Aliás, a agricultura familiar (uma das bases da agroecologia) tem alimentado o mundo desde o início das atividades agrícolas.
Há 12 anos, quando escolhi Piracaia para viver com minha esposa e filhos, trouxemos para cá os projetos da Família Orgânica (www.familiaorganica.com.br, @familia.organica) e começamos a interagir com pessoas que já tinham desenvolvido iniciativas agroecológicas por aqui.
Um dos motivos de nossa escolha por esse precioso município é, precisamente, outra característica da agroecologia: uma comunidade de pessoas que amam a natureza e trabalham pela regeneração e preservação do meio ambiente.
Daquele momento até hoje, o assunto foi ganhando corpo, o mundo foi mudando e exigindo um posicionamento mais sustentável por parte de todos. O aquecimento global – que hoje virou emergência climática, a crise hídrica, a pandemia e os alagamentos – são gritos da natureza, que já não suporta mais uma agricultura predatória.
A situação ficou tão grave que, apesar de a agricultura ser um dos grandes responsáveis pela proliferação de doenças e contaminação dos recursos naturais, o problema não pode ser resolvido apenas no campo. Por isso, a agroecologia também atua nas políticas públicas, na educação, na promoção da saúde, no comércio, na cultura e nos demais aspectos da vida social.
Se a forma antiga de produzir comida enchia o solo de veneno com monoculturas que só extraem recursos da terra, hoje a ciência sabe que alimento bom é aquele que ajuda a criar floresta, a conservar água, a cuidar da saúde de quem planta e de quem consome e que respeita toda forma e expressão de vida.
Essa maneira de produzir alimento sem veneno é a grande vantagem da agroecologia. Para quem gosta de estudar, ler e se aprofundar, não faltam estudos e exemplos consolidados, basta buscar informações sobre vilas agroecológicas, ecovilas, produção orgânica, biodinâmica, regeneração, permacultura e bioconstrução. As pessoas envolvidas nesses assuntos têm muito a contar.
Quem gosta de navegar por imagens de satélites ou tem acesso às fotografias antigas da região vai perceber várias mudanças nos campos de produção. Uma delas é o aumento de áreas verdes e de propriedades diversificadas. É possível notar a volta das chácaras e sítios onde se planta tudo o que é bom para comer.
A área da Família Orgânica em Piracaia é um dos exemplos que podem ser acompanhados pelas imagens do Google Earth. Quando chegamos, em 2012, o cenário geral era de uma pastagem degradada, com um pequeno fio de água todo pisoteado pelo gado. Hoje, a mata ciliar, às margens do riacho, já está definida (veja imagens abaixo) e os vários projetos em andamento estão enriquecendo o sistema agrícola com espécies que ampliam os serviços ecossistêmicos.


Propriedades ligadas à Família Orgânica, evolução entre 2012 e 2022 (Google Earth)
O resultado foi que, em lugares como o nosso, onde a agroecologia foi adotada, aumentou também o volume de água, ar puro, passarinhos, frutas e abelhas. Enfim, a vida se multiplicou.
No primeiro Dia de Campo sobre Agroecologia, realizado em 4 de junho passado, 80 participantes testemunharam um pouco dessa transformação. Aliás, a própria organização do evento foi um trabalho conjunto de várias instituições (Sebrae, Senar, Casa da Agricultura, Sindicato Rural e Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural), o que também é uma conquista para a agricultura do município.
Graças à atenção dos organizadores deste novo jornal, o nome da publicação – Assa-peixe – surgiu também de uma reivindicação nossa antiga: a de que a planta assa-peixe (Vernonia polyanthes) seja um dos símbolos de Piracaia (do guarani, peixe-assado).
Mas, se a agroecologia está avançando em Piracaia, trazendo novas relações, mais biodiversidade e mais cuidado com os recursos naturais e com a vida em geral, aumenta também a necessidade de um trabalho mais coordenado entre as pessoas de boa vontade e as instituições da região.
A esperança é que cada um faça o que está ao seu alcance, da melhor maneira possível. Se puder ser em conjunto e em favor de nossa própria natureza, mais ecologicamente será.
Se você ainda quer mais, não use ou permita veneno em sua comida. Mata-mato na calçada também vai parar nos rios e acaba com os peixes. Não permita queimadas nem o maltrato de animais. Todas essas causas são agroecológicas e é assim que a agroecologia avança em Piracaia.
*Dercílio Aristeu Pupin é produtor agroecológico e co-fundador da Família Orgânica.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do Jornal Assa-Peixe. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas piracaienses e de refletir tendências do pensamento contemporâneo.
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